LIVRO | O DIÁRIO DE ANNE FRANK

sábado, junho 06, 2020


Mais um livro finalizado nessa quarentena. E que livro, meus caros! Sempre ouvi falar no Diário de Anne Frank e por isso a vontade de ler era gigantesca. Mas parece que li na hora certa!

O livro é escrito em forma de diário pela própria Anne Frank, uma jovem judia nascida na Alemanha. Ela manteve esse diário entre 12 de junho de 1942 e 1º de agosto de 1944. Ela nomeou o diário como Kitty e compartilhava todos seus pensamentos como se realmente falasse com uma amiga. 


Anne iniciou o diário pouco antes de ter que se esconder dos Nazistas, junto com toda a sua família. Eles se esconderam no que ela chamava de "Anexo Secreto", uma pequena casa localizada no sótão da empresa em que o pai de Anne trabalhava na cidade de Amsterdã, na Holanda. A entrada desse sótão era fechada por uma estante de livro, para que ninguém suspeitasse nada. Lá esconderam-se Anne, seus pais e sua irmã, além da família van Daan (pai, mãe e filho) e posteriormente um dentista. Todos judeus fugindo da morte. Eles eram ajudados por alguns bons amigos que trabalhavam nesse escritório e mais algumas pessoas que tentavam ajudar indiretamente, conseguindo comida, por exemplo.


E Anne conta toda essa convivência de anos em seu diário. Como eles tinham que ficar em silêncio para que ninguém do prédio suspeitassem que havia alguém ali, não apareciam na janela, como racionavam a comida, como tinham que se exercitar para não ficarem enrijecidos... Uma vida de isolamento. E por isso que digo que li em um momento muito oportuno, pois estamos que ficar em um certo enclausuramento devido a pandemia do COVID-19. Nunca pensamos que iríamos viver isso e acabamos por experimentar um pouco sobre como é viver em isolamento.

Claro que estamos em circunstâncias completamente diferentes da de Anne. Entretanto, já experimentamos um pouco dos altos e baixos de se estar isolado em caso. Agora imagine essa agonia tirando todo o conforto do seu lar, com racionamento de comida, tendo que ficar absolutamente em silêncio, tendo apenas um rádio para ouvir notícias sobre a guerra e o mundo afora, com medo de morrer nas mãos dos nazistas, por algum bombardeio aéreo ou por balas perdidas?  Pois é ,amigos. Não consigo nem imaginar o pesar dessas pessoas. Mas Anne tenta nos passar um pouquinho do que eles passavam e é muito boa nisso.


Além de todos esses poréns, Anne relata bastante os conflitos internos que rolavam no Anexo. Imagine só, viver anos dessa maneiras, em estado de guerra, com pessoas totalmente diferentes e com os ânimos afetados? Imagino que tenha sido um pouco difícil, especialmente para Anne que já tinha uma mente muito a frente do seu tempo e claramente possuía uma personalidade muito forte. 


E é muito interessante ver o amadurecimento de Anne no decorrer dos relatos, bem como sua visão sobre a guerra e tudo que acontecia a sua volta. Apesar de tudo, ela tinha muita esperança de que sobreviveria a guerra, tinha sonho de ser escritora e realmente esperava publicar o seu diário no pós-guerra. Ela sempre demostrava muita gratidão por todos aqueles que os ajudavam e tinha uma fé muito bonita. Sempre que as coisas pesavam por lá, ela ajoelhava e orava, pedia a Deus pela vida dos seus e todos os outros que não tiveram a oportunidade de se esconder como eles. 

Sem dúvidas uma das passagens que mais me emocionei, foi o questionamento dela sobre as guerras, sobre a vontade dos homens em matar e destruir pessoas, só para ter que construir tudo de novo. Como ela tinha orgulha de ser judia e como todo o sofrimento do seu povo serviria de lição para todo o mundo. E espero que ela esteja certa.

Outras passagens que eu também me senti muitíssimo tocada, foram as das datas festivas. Eles sempre trocavam presentes nos aniversários um do outro. Uma coisa pequena, mas que garantia alegria de todos no Anexo. Isso mostra o quanto eles tentavam manter a religião viva e a humanidade latente. 


Fico muito feliz que ela tenha encontrado um certo conforto junto a Peter, o filho dos van Daan. Eles desenvolveram uma amizade um pouco tardia, mas cheia de amor e respeito. Meu coração ficou um pouco mais leve ao saber que ela experimentou um pouquinho disso antes de morrer. 

Pois é, isso não é um spoiler. Três dias após Anne escrever seu último relato no diário (um muito triste, inclusive, ao qual ela falava o quanto era incompreendida por todos), na manhã de 4 de agosto de 1944, eles foram pegos por sargentos da SS. Possivelmente alguém os denunciou. Eles levaram os 8, além de prenderem também dois funcionários da empresa que os ajudavam. Anne morreu no campo de concentração de Bergen-Belsen, acometida por uma epidemia chamada Tifo, três meses antes de completar 16 anos. Sua irmã morreu da mesma forma. Peter participou da marcha da morte e morreu pouco tempo antes de haver a liberação dos campos de concentração. A morte dele foi uma das que mais mexeu comigo, pelo apresso e ligação que ele teve com Anne. Era muito querido por ela e assim tornou-se uma pessoa querida por mim também. Otto Frank, o pai de Anne, foi o único dos 8 a sobreviver ao Holocausto. 



O pai de Anne foi o responsável por propagar os escritos da filha pelo mundo. E acho que foi realmente foi coisa do destino. Anne era muito ligada ao pai, tinha um carinho e respeito gigantesco por ele, e ao meu ver isso era mais intenso pois Anne não se sentia ligada da mesma forma com a mãe. Acredito que isso tenha sido influenciado pela mentalidade muito moderna de Anne. 

O sonho de Anne era ligar-se às pessoas através da escrita, causando emoções e influenciando na vida de todos que lessem o que ela iria escrever. E o pai dela definitivamente respeitou esse desejo. Dedicou toda a sua vida em publicar o seu diário e hoje é um dos livros mais traduzidos em todo o mundo, e leitura obrigatória em muitos lugares.

Hoje o "Anexo Secreto" transformou-se em um museu em Amsterdã e sem dúvidas tornou-se um dos meus sonhos conhecer. Não sei expressar o quanto esse livro me tocou. Sinto muito pela morte de todos. Queria muito que Anne tivesse visto o diário dela sendo publicado. Mas o desejo dela se realizou. Em certa passagem ela disse "Quero viver mesmo após a morte". E Anne de fato vive! Obrigada por tudo, Anne.

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